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terça-feira, 9 de junho de 2015

Porque lembrar é preciso

Infelizmente o Povo Português, ou melhor, uma parte dele sofre de problemas de memória e na classe política essa doença é muito mais acentuada, chega a ser crónica. Para relembrar fica aqui mais um texto do Nuno Serra do blog Ladrões de bicicletas que permite confirmar que afinal não se trata de um "mito urbano". A entrevista pode ser vista bastando para isso clicar no link do youtube.

Memória (IV)


«Jornalista: Não se trata de uma contradição, quando o senhor incentivou tantos jovens a irem precisamente procurar emprego no estrangeiro?

Passos Coelho: Há uns quantos mitos urbanos, não há? Um deles é o de que eu incentivei os jovens a emigrar. Eu desafio qualquer um a recordar alguma intervenção ou escrito que eu tenha tido nesse sentido.» (Junho de 2015).

«Jornalista: Por exemplo, os professores excedentários que temos, e temos muitos, o senhor primeiro-ministro aconselhá-los-ia a abandonarem a sua zona de conforto e procurarem emprego noutros sítios?

Passos Coelho: Angola - mas não só Angola, também o Brasil - tem uma grande necessidade, ao nível do ensino básico e do ensino secundário, de mão-de-obra qualificada, e de professores. Nós sabemos que há muitos professores em Portugal que não têm nesta altura ocupação. E o próprio sistema privado não consegue ter oferta para todos. Nós estamos com uma demografia decrescente, como todos sabem, e portanto nos próximos anos haverá muita gente em Portugal que, das duas uma: ou consegue, nessa área, fazer formação e estar disponível para outras áreas; ou querendo-se manter sobretudo como professores podem olhar para todo o mercado de língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa. Isso é perfeitamente possível.» (Dezembro de 2011).

A transcrição das perguntas e respostas não dispensa a visualização dos excertos das entrevistas, que a Shyznogud em boa hora compilou. De resto, duas notas adicionais (relativas à entrevista de 2011):

a) A facilidade com que o jornalista papagueia, sem pestanejar, a ideia de que temos «professores excedentários, e temos muitos»;
b) A invocação, pelo primeiro-ministro, do fantasma demográfico, da tal «demografia decrescente», para justificar o despedimento massivo de professores que a maioria de direita levou a cabo nos últimos anos.

Para que a realidade dos factos prevaleça, e a propaganda não leve a melhor, vale a pena recuperar umas contas que aqui fizemos: entre os anos lectivos de 2010/11 e 2012/13, a diminuição, em cerca de -14 mil, do número de alunos matriculados (crianças e jovens), foi inferior à redução verificada no número de professores, a rondar os -23 mil. Ou seja, no período em apreço (que não reflecte ainda os dados mais recentes), o sistema perdeu mais docentes que alunos. Como ilustração do «factor demográfico» e do «excesso de professores» em Portugal, estamos pois conversados.

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