“A situação a que chegámos não foi uma
situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para
Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura,
foi também na indústria, por exemplo no têxtil. Nós fomos financiados para
desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países
como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês,
basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os
teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos
de produzir. E, portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto
de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram
acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável. Nós orientámos os
nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União
Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram
dados e em função do crédito que foi proporcionado. E, portanto, houve um
comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política
induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer… podemos
todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que
esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do
conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União
Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser
simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!”
Por António Costa, em a "Quadratura
do Círculo"
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