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segunda-feira, 29 de abril de 2013

O que já conseguimos

Convém relembrar o que conseguimos em 39 anos de democracia e que nos tentam tirar descaradamente. 

«O terceiro D do 25 de Abril

Quando, há 39 anos, um conjunto de oficiais de baixa patente, apenas munido dos mais rudimentares conceitos ideológicos e sem qualquer experiência política, derrubou um regime que já mal se aguentava de pé, prometeu, num programa genérico, três coisas: descolonizar, democratizar e desenvolver Portugal.

Pior ou melhor, a descolonização tardia foi feita. A democracia, depois de um período conturbado mas pacífico quando comparado com outras revoluções, foi aceite por todos. E o desenvolvimento, a mais difícil das três tarefa, superou as melhores expectativas.   
Em menos de meio século, Portugal deu um salto assombroso. Um país atrasado, isolado, miserável e semianalfabeto chegou rapidamente ao restrito clube do primeiro mundo. Pobre entre os ricos, é verdade. Mas em tudo um contraste com o seu passado.

O saneamento básico e a eletricidade chegaram a todo o território. Foram construídas infraestruturas. A segurança social foi generalizada. Acabou-se com trabalho infantil. As barracas foram praticamente erradicadas. A pobreza e a desigualdade, que subsistem, não são comparáveis à miséria em que vivia grande parte da população. Passámos de um País de emigrantes para um País de imigrantes. Nasceu um Serviço Nacional de Saúde gratuito e universal. Os nossos indicadores de mortalidade infantil passaram dos piores para os melhores da Europa. O analfabetismo é hoje marginal e a nova Escola Pública formou a geração mais bem preparada, culta e instruída que Portugal conheceu em toda a sua história. Quem desmerece o que conseguimos nestas quatro décadas comete a pior das injustiças: a ingratidão consigo próprio. Em 40 anos fizemos o que a maioria das nações europeias levaram mais de um século a construir.

Os três d's não eram três partes de um programa. Eram todos a mesma coisa. Não seria possível desenvolver Portugal e ter um Estado Democrático se teimássemos na guerra colonial. Num país tão atrasado e desigual, o desenvolvimento só foi possível porque os portugueses o exigiram no uso da sua liberdade. E a construção da democracia, numa nação que nunca a conhecera realmente, só prevaleceu porque trouxe bem estar. E o Estado Social foi o mais poderoso motor desta democratização tardia.
(...)
Nenhuma democracia sobrevive à destruição da classe média e ao empobrecimento geral da população. Nem à completa instabilidade social, imprevisibilidade pessoal e insegurança laboral. Nenhuma democracia sobrevive sem a confiança dos cidadãos no Estado e essa confiança depende, pelo menos em Portugal, do Serviço Nacional de Saúde, da Segurança Social e da Escola Pública. (...)

Quando se diz que os valores do 25 de Abril estão em perigo constata-se uma evidência: se o nosso caminho é empobrecer, temos de nos preparar para viver sem liberdade. Porque uma nação é como uma cidade: se à nossa volta só houver a miséria e o caos, até os mais ricos estão condenados a viver cercados por muros.»
Daniel Oliveira, aqui

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