Quando eu era pequenina o pinheirinho cheirava a rezina e a chuva. O pinheiro e o presépio eram feitos no dia 24 de Dezembro com o pai, enquanto a mãe e a avó tratavam do jantar. A mãe fazia sempre os doces, as rabanadas deliciosas, a aletria e o arroz doce e mais dois ou três bolos, um deles com frutas cristalizadas que o pai gostava e que nós, naquela altura, detestávamos. Fazia o molho vermelho para acompanhar as batatas, o bacalhau e as couves.
E fazia-nos sempre um miminho, sopa doce. Ainda me lembro das sopas de pão cozinhadas na panela de esmalte vermelho, do seu cheiro quando fumegavam já no prato e de as polvilhar com canela. A nossa sopa doce era uma espécie de parente pobre dos formigos, era apenas pão, leite e açúcar. Mas como era deliciosa.
No dia de consoada, passava-se o dia a apanhar musgo para fazer o presépio antes do jantar e como era bom o cheiro do musgo na sala misturado com o pinho e a resina.
Ah saudades de ser pequenina. De colocar o sapatinho na chaminé e esperar que o menino Jesus viesse deixar um presente. Era só um com alguns chocolates, pais Natal, bolas e pinhas, sinos e garrafinhas, coelhinhos, se tivéssemos sorte, bombons de creme e uma sombrinha, mas era a melhor época do ano.
Saudades do cheiro das pinhas assadas e da roda à volta da lareira a partir pinhões acabadinhos de assar.
Saudades da roupa nova que a mãe fazia para as suas meninas levarem à missa no dia 25. De beijar o menino no fim da missa, de ir ver o presépio da Igreja do Carmo, que era enorme, tinha muitas luzes e movimento. Ah tantas, mas tantas saudades daqueles tempos.